Poderia um indivĂduo adulto mudar sua gramática ao longo da vida? Para responder a essa pergunta, a professora Maria CĂ©lia Lima-Hernandes, da Faculdade de Filosofia, Letras e CiĂŞncias Humanas, da Universidade de SĂŁo Paulo (USP), deu inĂcio Ă pesquisa que resultou no livro IndivĂduo, Sociedade e LĂngua – Cara, tipo assim, fala sĂ©rio!.
RecĂ©m-lançada pela Edusp, com auxĂlio da FAPESP, a obra Ă© uma versĂŁo revista da tese de doutorado defendida por Lima-Hernandes em 2005, no Instituto de Estudos de Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A autora investiga se um mesmo grupo de pessoas poderia ter sua gramática alterada em um espaço de 20 anos. Quatro palavras de base comparativa – “como”, “igual”, “feito” e “tipo” – foram escolhidas para testar a hipĂłtese de que contatos sociais mais extensos desencadeariam mudanças na gramática da lĂngua falada por adultos independentemente da idade, do sexo ou do grau de escolaridade.
“A teoria atĂ© entĂŁo predominante na sociolinguĂstica era a de que as mudanças na gramática seriam resultado da rebeldia adolescente. Os jovens, por acharem os pais caretas, procurariam usos inovadores para as palavras. Isso foi recentemente questionado por William Labov, professor da Universidade da Pensilvânia e precursor da SociolinguĂstica Quantitativa”, disse Lima-Hernandes.
Já para a corrente teĂłrica liderada pelo linguista e filĂłsofo Noam Chomsky, Ă© a criança a força transformadora da lĂngua. “A criança interpretaria as construções de um modo diferente produzindo uma nova gramática", explicou Lima-Hernandes. Mas, nas pesquisas que realizou antes mesmo de dar inĂcio ao doutorado, a autora encontrou evidĂŞncias de mudanças linguĂsticas na idade adulta em várias lĂnguas do mundo.
A confirmação veio quando comparou entrevistas de um grupo de 36 moradores do subúrbio do Rio de Janeiro que, 20 anos antes, haviam sido objeto de estudo do grupo de sua orientadora, Maria Luiza Braga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Lima-Hernandes observou inicialmente que usos inovadores da palavra “tipo” podiam ter sua incorporação na fala relacionada ao tipo de vida social que os falantes desenvolviam.
“Algumas pessoas simplesmente haviam parado de usar a palavra “tipo” ou sĂł a usavam em suas categorias e funções normatizadas. Essas eram as que mantinham um cĂrculo social restrito. Já as que tinham contato com pessoas de diferentes idades e participavam de nichos sociais variados usavam todos os tipos de “tipo”, ou seja, acompanharam a evolução da lĂngua mesmo na idade adulta”, disse.
Por meio da análise de documentos histĂłricos que datam do sĂ©culo 13 ao sĂ©culo 20, Lima-Hernandes resgatou tambĂ©m a trajetĂłria de evolução das palavras “como”, “igual”, “feito” e “tipo”, mostrando os diferentes usos que surgiram com o passar dos anos. “É possĂvel perceber que a mudança no uso das palavras nĂŁo vai em qualquer direção, nĂŁo Ă© aberta Ă criatividade aleatĂłria como se pensa, mas respeita princĂpios cognitivos. O novo uso tem de estar ligado, de alguma forma, ao seu traço etimolĂłgico resiliente, ainda que os falantes nĂŁo tenham a mĂnima consciĂŞncia disso”, disse.
IndivĂduo, Sociedade e LĂngua – Cara, tipo assim, fala sĂ©rio!
Autora: Maria Célia Lima-Hernandes
Lançamento: dezembro de 2011
Preço: R$ 45
Páginas: 232
Mais informações: www.edusp.com.br/detlivro.asp?ID=413216
(AgĂŞncia FAPESP)